30
Nov
Por Hyberville Neto – consultor e diretor da HN AGRO
Com base nas cotações futuras para o boi gordo nesta quinta-feira (30/11), fizemos algumas análises dos últimos anos e ponderações para 2024.
Considerando as variações de preços entre o último trimestre e o primeiro trimestre do ano seguinte, no intervalo desde 2010 (na comparação com o final de 2009), temos uma variação positiva de 2,8%. Ou seja, as cotações médias no primeiro trimestre foram 2,8% superiores àquelas do último quarto do ano anterior. Veja a figura 1.
Figura 1. Variações de preços, considerando a média do primeiro trimestre, na comparação com a média do último trimestre do ano anterior. Em verde estão os anos de retenção de fêmeas e em vermelho os de descarte. Obs: para 2024 são preços no início da tarde de 30/11. Fonte: B3 / CEPEA / Elaboração: HN AGRO
Em geral, os anos de retenção (verde) trazem um primeiro trimestre de preços maiores que os do final do ano anterior, ainda que o consumo doméstico seja mais calmo no período.
Um ponto que destoa é o ocorrido em 2022, quando as cotações no primeiro quarto do ano foram 15,2% maiores que no último de 2021. Aqui temos que lembrar do caso atípico de BSE naquele ano, que derreteu a arroba no período e, em 2022, o mercado começou em plena recuperação de preços.
Para 2024, na comparação com o trimestre atual (ainda sem dezembro, obviamente), a projeção é de uma cotação 3,5% superior.
Ao observar os contratos futuros negociados no dia 30/11, temos a seguinte curva projetada, em relação a 2023.
Figura 2. Evolução dos preços do boi gordo em 2023 e preços futuros a partir de dez/23, considerando contratos negociados em 30/11. Fonte: B3 / CEPEA / Elaboração: HN AGRO
Até agosto, as cotações projetadas não superam o observado em 2023. Para agosto, além de uma projeção mais otimista nos futuros de 2024, o mercado havia despencado no mesmo mês em 2023, o que resulta em uma alta nominal de 18,0% (ago24 vs. ago23). Considerando todos os meses apresentados na figura, a média projetada para 2024 é de um recuo nominal de 1,1%, no momento da coleta dos dados, com segundo semestre já mais positivo.
Voltando ao primeiro trimestre, a média projetada aponta para um recuo nominal de 13,2%, na comparação com o início de 2023.
Considerações
A curva de preços futuros é um conjunto de opiniões no momento, mas traz possibilidades de trava que devem ser mantidas à mesa pelo produtor. A opção por usar ou não o hedge é diretamente relacionada ao risco que o ele está disposto a correr.
Se o gado está no confinamento, é recomendado que o pecuarista avalie com muito cuidado a possibilidade de trava, uma vez que, ele já está “comprado” nessas arrobas que estão no cocho e têm data para venda.
Na pastagem, o cenário é mais maleável, sem uma data fixa para a venda, mas nada impede que o produtor proteja a receita, se achar a oportunidade interessante.
Por falar em pastagem, temos que ponderar que o cenário de El Niño deve permanecer ao longo de quase todo o primeiro semestre de 2024. Isso tende a gerar chuvas abaixo da média na região central e norte do Brasil, provavelmente atrasando a oferta de gado oriundo de pastagem. Isso pode dar um tom mais positivo para o início de 2024.
Também o El Niño pode impactar a produtividade da safra e safrinha e os preços do milho, afetando troca e limitando uma intensificação maior da nutrição, seja em confinamento ou semiconfinamento. Isso pode ajudar os preços do boi gordo, principalmente no segundo semestre.
Outro aspecto importante será a disponibilidade de bezerros e as cotações. Segundo a ASBIA/CEPEA, em 2022 o volume de matrizes de corte se manteve (+0,2%) frente a 2021, mas houve redução de 2,5 pontos percentuais no uso de inseminação, passando de 26,0% das matrizes de corte inseminadas em 2021 para 23,5% em 2022.
As inseminações de 2022 foram os bezerros nascidos em 2023 e que serão ofertados em 2024. Como tivemos praticamente o mesmo rebanho de matrizes e menos investimento (usando a inseminação como referência), é provável que a oferta de bezerros do próximo ano seja menor. Se o cenário de preços da cria melhorar, isso pode tirar fêmeas do gancho no primeiro semestre de 2024 e colaboras com as cotações ao longo da cadeia.
Vamos acompanhando.
Fonte: Portal DBO (https://portaldbo.com.br)